Ser feliz, eis uma questo que muitas vezes suscita mais debates filosficos do que algo prtico. Alguns questionam se existe felicidade, outros querem saber o que felicidade e, ainda, h uma grande maioria que quer mesmo saber a sua receita ou onde encontr-la. Melhor ainda se isso no lhes exigir nenhum esforo.

Eu da minha parte acho tudo isso debalde, intil mesmo. Porque entendo que a felicidade no algo pronto e acabado, para ser conquistado a todo tempo. E est contida nos diversos estados de bem-estar que vivenciamos ao longo da nossa existncia. Deste modo, podemos afianar que a felicidade est presente em cada bom, pacfico e prazeroso momento da vida; um “estado de esprito”.

Partindo deste enfoque, a questo que se apresenta no se a felicidade existe ou no existe, mas, se estamos sabendo identificar nossos estados ou momentos de felicidade, se estamos valorizando-os adequadamente. Em sntese, este o desafio a ser vencido por aquele que deseja ser feliz.

Por que desafio? Por que para a maioria das pessoas parece ser mais fcil falar de infelicidade, infortnios e frustraes. Por que mais simples apegar-se ao negativo, do que confrontar o modelo existencial viciado que superestima as ms ocorrncias e alimenta assim o vitimismo e o sentimento de autopiedade.

Posto que seja natural em todos ns o desejo de ser feliz, a melhor direo para esta busca est em aperfeioar o nosso entendimento para definir com maior clareza o que verdadeiramente nos faz ou far felizes; quais os requisitos e as aes que iro resultar em prodigiosos estados de bem-estar. Ao agir assim, por certo estaremos agregando maior qualidade ao uso do nosso tempo. Estaremos deixando de perd-lo no encalo de iluses ou prazeres efmeros que, alm de no nos preencher a existncia, faz com que percamos a f em ns mesmos.

Acredite: Ser feliz depende de multiplicarmos nossos momentos venturosos de paz interior. E esta ao est ligada profundamente qualidade do que sentimos e vivenciamos, porquanto, a felicidade se alimenta de tudo quanto positivo nos nutre o esprito, a mente e o corpo. Da a certeza de que, mesmo em pores, a felicidade existe e est ao alcance daquele que conscientemente faz o melhor por si mesmo e, por extenso, aos seus semelhantes.

Pense rico

Quando num texto fiz referncia ao hbito de “pensar pobre”, alguns leitores mais atentos indagaram-me a respeito da citada expresso. A seguir compartilho a reflexo sobre o tema.

No preciso uma anlise muito profunda sobre a nossa cultura educacional para constatar o quo empobrecedor ela . Levando-se em considerao que na atualidade a maioria das pessoas vive como autmatos dirigidos, principalmente, pela viso televisiva da realidade ou pela internet, que mais difundem esteretipos comportamentais vazios do que valores afirmativos, humanitrios e ticos, no h como ar despercebida a misria existencial em que nos encontramos.

S no v quem cego, no ouve ou hipcrita. Tantos so os que vagueiam por a movidos por manipulaes e engodos em todos os nveis: religies que antes prometiam o cu na eternidade hoje o oferecem aqui e agora nos mais variados cardpios; escolas subvertem a boa pedagogia eliminando o ensino de valores e a prtica do pensar; faculdades alardeiam a jovens incautos qualidades discutveis oferecendo-lhes preparao para um mercado incerto e em crise; a doena uma mercadoria rentvel; a msica que antes nos embalava hoje s um lixo que fere ouvido e a mente das pessoas ainda ss.

Ento, neste contexto, pensar pobre significa: seguir a manada sem refletir, sem racionalizar ou ser seletivo diante de tantas informaes inteis que s fazem poluir a mente e a alma; viver com medo de romper os grilhes do comodismo e da incapacidade de bem pensar, oriundos de um modelo existencial que pereniza a subservincia; apegar-se a fracassos e perdas acomodando-se no papel de vtima ou coitado; estacionar na ignorncia, no egosmo e no orgulho, elementos impeditivos de crescimento.

Significa, ainda, no confiar em si mesmo como protagonista principal da sua prpria histria; crer-se pequeno diante dos obstculos e amparar-se em desculpismos para no assumir responsabilidade com a prpria existncia; desprezar valores e princpios para se apoiar em preconceitos, regras artificiais ou transgresses da licitude e da justia; desconhecer o campo das potencialidades inerentes ao ser humano, de promover mudanas em seu modo de ver o mundo e de superar desafios rumo evoluo consciente e respeitosa para consigo mesmo, com o ambiente onde vive e seus semelhantes.

Enfim, pensar ou agir pobre fugir responsabilidade espiritual que todos temos para com a vida em todas as suas dimenses e espao. No mais, a referncia a “pensar pobre” tem sua razo de ser em virtude de que tudo o que o ser humano realiza inevitavelmente a pelo seu pensar consciente ou inconsciente, racional ou instintivo. E para enriquecer seu pensamento e suas aes, necessita ele buscar o conhecimento, process-lo e assenhorar-se dele atravs da constncia da

sua prtica benfazeja e construtiva.