Estamos vivendo um tempo onde a hipocrisia ja se incorporou nossa cultura social, algo assim to corriqueiro que, parece-me, j nos acostumamos a ela. Presentemente, assistimos uma demonstrao evidente disso com todo o alarido formado contra o senador Jos Sarney pelo uso da mquina istrativa do senado a favor dos seus familiares e de outros apaninguados. No resta a menor dvida que aes como as que foram denunciadas merecem a todo tempo o nosso mais veemente repdio, mas, querer sataniza-lo como se ele fosse o nico corrupto que este pas j teve ou tem, como se ele fosse o nico a usar e abusar de seu poder poltico, a j maniqueismo. 1g2x71
A bem da verdade, no se pode tapar o sol com a peneira e fazer de conta que isso tudo novidade, quando pblico e notrio que polulam por estados e municpios um cordo sem fim de polticos ou de detentores de cargos pblicos que, ao arrepio da lei e da boa tica, vivem a se beneficiar do bem pblico. Quem no sabe de alguma histria sobre um prefeito, governador, vice, deputado, senador, vereador, secretario, assessor de qualquer natureza, dirigente de entidade de classe, de clube social, de clube esportivo, de entidades ou instituies dos mais variados generos, etc., que, alm de empregar ou beneficiar, direta ou indiretamente, familiares ou amigos, ainda aumentou seus bens depois depois que assumiu algum poder ou comando? Onde h trfico de influncia h corrupao. Tanto aqui na nossa aldeia como alhures, muitos desses indefectveis personagens agem o tempo todo sob a gide da astcia e sem punio alguma. E o que pior, no incomum vermos moralistas de todos os credos e estirpe os reverenciando.
Corrupo no s poltica, no se faz apenas com retribuio pecuniria ou troca de qualquer natureza. A origem da corrupo est no ato de transgredir valores, princpios, normas morais e legais. Em termos comportamental todo indivduo praticante de algum tipo de corrupo portador de um marcante desvio de carter. No a poltica ou o poder que o corrompem, ele que os corrompe, ele que faz mal uso destas ferramentas quando as detm. Ser corrupto um trao da m formao da personalidade da pessoa, origina-se da sua formao educativa inadequada, uma falha na sua estrutura de valores. Todo indivduo que burla de algum modo as normas vigentes na sociedade, que age contra a tica idependente do tamanho de sua ao, participa da corrupo. Por exemplo, quem se elege manipulando, mentindo, coagindo, distorcendo a vontade do eleitor, comprando ou trocando votos seja l pelo que for, to corrupto quanto aquele que desvia o dinheiro pblico. Da mesma forma, corrupto todo aquele que se utliza de qualquer cargo ou poder para favorecer parentes ou amigos, ou aquele que afere benefcios pecunirios para si ou para outrem burlando regras ou requisitos legais.
Como vimos, em termos de corrupo o buraco tanto poder ser mais embaixo como mais em cima. O que est por detrs da corrupo a chamada lgica da esperteza, onde o indivduo se autoelege o mais astuto, o mais esperto que os outros. Seu objetivo levar vantagem em tudo, um egosta de carteirinha, no est nem a para os outros, o que conta so apenas os seus interesses individuais. Sob os mais diversos disfarces e argumentos esse prfido camaleo, s vezes, se colore de caridoso, de religioso, de bonzinho, de defensor da moralidade e dos bons costumes, de salvador dos fracos, mas, tudo s astcia para atingir os seus fins. Vale lembrar ainda que onde h um corrupto provavelmente existe uma rede formada por aqueles que podemos chamar de corruptos menores que se comprazem com as sobras do botim. Corrupto, ativo ou ivo, tudo farinha do mesmo saco.
Atualmente existe at um movimento contra a corrupo, cujo maior feito at agora foi o de encaminhar Cmara Federal uma Lei de iniciativa popular a favor da inelegibilidade dos chamados polticos de ficha suja, ocorre que isso, se aprovado, ser apenas um paliativo, pois, existem muitos polticos de carter sujo que no constam dos acervos do judicirio. Alm disso, s na Cmara dos Deputados existe mais de uma centena de Deputados com pendncias judiciais; pura igenuidade acreditar que algum v cortar o prprio pescoo. Em sendo assim, creio que os cidados de bem precisam ser mais inteligentes nessa luta a favor da tica, posto que a lgica da astcia tem funcionado de modo a beneficiar aqueles que usufruem da corrupo, seja ela poltica ou no.
Vale alertar ainda que a corrupo apenas um dos tantos desvios morais que encontramos em nosso convvio social. Portanto, se desejamos realmente mudar essa situao temos que reconhecer que devemos ir raiz do problema, mudar o nosso foco. Muito alm da superficialidade vigente, faz-se necessrio itir que a corrupo na poltica resultado da corrupo de valores da nossa sociedade, que o nosso quadro social doente que produz esse desvio comportamental e, a partir da, buscarmos meios de san-lo. Por outro lado, no podemos tambm nos iludir de que ser uma tarefa fcil, a mudana no vir como num e de mgica. A nossa sociedade que, presume-se, seja formada por uma maioria de pessoas de bem, tem que estar motivada para enfrentar o desafio de se autoeducar, posto que no h outro caminho que no seja o da educao para transformarmos a tica da esperteza na tica da cidadania consciente, da honestidade e da solidariedade.
No mais, se quem cala consente ou se toda a omisso implica em conivncia, nada mais claro de que o combate corrupo e a instituio de uma tica renovada em seus valores fundamentais uma responsabilidade de todos que verdadeiramente lutam por uma sociedade fraternalmente mais justa.
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