Bem-aventurados aqueles que sabem que 2016 no acabou, que alis, 2015 tambm no e da por diante. Carssimos coleguinhas, j faz tempo que os anos terminam sem acabar no Brasil, que a desejada renovao no resiste nem mesmo ao tempo da queima de fogos que iluminam o cu quando o calendrio volta ao incio.
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Perdemos a noo de destino, como andarilhos, moramos na estrada e no sabemos mais para onde estamos caminhando. Moramos no trecho, como dizem os nmades viajantes. E quem no sabe para onde vai...
No faz tempo assisti uma cena real e muito curiosa, que alm de render boas risadas, agora me serve como uma excelente alegoria. Presenciei um grupo de trs moradores de rua, completamente embriagados e bem para l de Marrakesh. Dois deles discutiam por uma garrafa de pinga, a mesma garrafa que o terceiro ia tomando impunemente sem esboar o mnimo empenho em apaziguar o conflito. Alis, pelo contrrio, o guardador da garrafa vociferava contra um e contra o outro estimulando a treta que os dois bbados tentavam levar as vias de fato, mas por no conseguirem se sustentar nas pernas, a briga no ia alm de socos no ar e abraos assanhados.
Por que eles brigavam pela pinga j que mesma pinga estava sendo tomada por outro? Qual o sentido daquela discusso j que provavelmente quando terminassem a garrafa j estaria seca?
Nos anos que no chegam ao fim estamos discutindo pela garrafa de pinga que o guardador vem esgotando direto do alambique. A falta de sentido, a ode ao absurdo, faz com que nossos anos no terminem. Sem um fim no pode haver um comeo. E nunca precisamos tanto de novos comeos.
Entre chacinas e massacres 2017 surgiu carimbando com smbolos colossais as faces do que genuno da nossa cultura: a violncia. Um ex-marido que se autodenominava pessoa do bem, suspeito de abusar sexualmente do filho, com o ego polido pelo discurso moralista e pseudocristo, assassina a sangue frio a ex-mulher, o filho e mais 10 pessoas. Enquanto na capital amazonense apenas em um presidio registrado o massacre de 56 detentos, que foram mortos, segundo informaes oficiais, por guerra entre faces. O que esses dois casos tm em comum? O discurso que sustenta que temos o direito sobre a vida do outro. E se temos direito sobre a vida alheia podemos inclusive tir-la.
No mesmo dia assistimos aos discursos dos novos prefeitos, que com a garrafa de pinga na mo parecem no saber o que fazer. Todos com um discurso muito parecido como o do nosso presidente (diretas j nele), cheios de boa f e pregando benevolncia. Entretanto, quando o santo demais, a esmola desconfia. Ser que vo beber nossa pinga?
