A cena estarrecedora do policial Marcos Marques da Silva, 37, cabo da PM de Minas Gerais, sendo alvejado por um tiro de fuzil na cabea, comoveu, e novamente colocou em evidncia a estupidez nossa de cada dia. O confronto desproporcional entre os PM’s e os bandidos foi praticamente transmitido ao vivo em nosso reality show, que est cada vez mais show e menos reality, nas redes sociais.
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No fluxo da instantaneidade com que os acontecimentos repercutem, surgiram imediatamente arautos da justia responsabilizando os direitos humanos por ter provocado a tragdia. Em contrapartida, meia dzia de haters, infelizes e oportunistas, atiaram ainda mais a sanha justiceira dos comovidos. E novamente, perdemos mais uma excelente oportunidade de discutir o papel da polcia, a eficcia da guerra ao trfico de drogas, que o pai da criminalidade no pas, e as razes de estarmos assistindo a tantos policiais sendo mortos Brasil afora.
A mdia que, por sua vez, no sabe mediar discusses, pautando apenas os discursos de endurecimento da guerra contra a criminalidade em face daqueles que defendem uma polcia mais humanizada, deu pico de audincia ao favorecer o primeiro. Afinal, o que a maioria quer ouvir, no? Contudo, enquanto a discusso se limita dizeres caducos, omissos e rasos, policiais continuam sendo mortos. preciso, pois, entender, antes de mais nada, a guerra por trs da guerra.
Para alm do bem e do mal, a polcia, mais precisamente os seus agentes, os policiais, so as maiores vtimas dentro de um sistema penal que, no contexto de um pas que recrimina a pobreza, sem antes tentar preveni-la, arrasta os policiais para uma guerra que no deveria ser da polcia. Esta ntima relao dos policiais com o o crime gera consequncias trgicas que am despercebidas da opinio pblica. So suicdios, depresso, sndrome do pnico e outras tantas patologias que essa atividade de guerra provoca. O nmero de suicdios chega a ser maior que o nmero de policiais mortos em combate. Ora, se so conhecidos os terrveis efeitos entre os ex-combatentes de guerra que testemunharam o conflito de forma temporria, evidente que quem vivencia a guerra diria e sem trgua sofre de forma mais intensa os efeitos desta atividade insana. Mas dois caminhos so quase inevitveis: a corrupo e o embrutecimento, ou seja, a animalizao de seus membros.
E por isso mesmo, no podemos perder de vista que essa guerra, da maneira como se apresenta, no pode continuar. Dos 50 mil homicdios ocorridos no pas por ano (nmeros de uma guerra civil), apenas quatro mil (8%) tm o autor descoberto e preso. Por bvio, em linhas gerais, a polcia no consegue e no est voltada para prevenir e nem reprimir delitos.
Portanto, quem mais precisa dos direitos humanos, prpria polcia, que esta lutando no lugar errado, exposta e vulnervel.