O Brasil que ficou parado por 11 dias assistiu as mquinas que trancaram as rodoviais e interromperam o abastecimento do pas protagonizar a angstia do trabalhador brasileiro. Em Minas Gerais, os grandes protagonistas pelo abastecimento do futuro do pas vivem um 2018 delicado e preocupante na Rede Estadual de Ensino. Antes mesmo do ano letivo comear, o governo mineiro j recebia presso dos professores em virtude de atrasos nos pagamentos, tambm pelo descumprimento dos prazos na concesso dos reajustes salariais, entre outras pautas no menos importantes, como a aplicao dos recursos do FUNDEB, por exemplo.
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Como se no bastasse, o governo alega que a greve dos caminhoneiros afetou ainda mais as contas do estado, o que dificultou o pagamento dos servidores e intensificou os problemas da j delicada situao salarial dos professores. Neste contexto, comum observarmos crticas de pais e alunos acerca do movimento grevista do professorado. E, portanto, ser que ns, os professores, temos dado a devida ateno a elas? O que explica a falta de apoio da sociedade mineira ao nosso pleito?
Para inicio de conversa, o fato de existir um coro reclamante denuncia uma clara falta de articulao e interlocuo da classe com a sociedade. Lembrando que esta articulao deveria se dar atravs da comunidade escolar. Porqu, ento, a escola tem falado to pouco com os pais e alunos? Mais do que lamentar o questionamento dos pais acerca de nossa paralisao, deveramos ouvir com muita ateno. Afinal, ao no debatermos com mais clareza e abrangncia as consequncias daquilo que nos prejudica enquanto profissionais, limitamos o pleito a uma causa exclusiva nossa. E o instrumento greve, por sua seriedade e consequncias, no deveria ser imposto unilateralmente, mesmo sendo um direito constitucional. Alm disso, importante entender que talvez, repito, talvez, estejamos sendo antidemocrticos, uma vez que a cidadania e democracia que exigimos no estejamos exercendo na instituio escola.
As negociaes no colegiado, ou seja, quando as decises sindicais chegam at o imenso grupo de representados que iro ou no cumpri-las so pouco ou quase nada rediscutidas. Geralmente se limitam a sim ou no. Greve um instrumento importantssimo, sim, mas est longe de ser o nico. A nossa luta deve ser entendida e empreendida como muito maior que a causa imediata do salrio deste ms. Pois do contrrio, em vez de nos posicionarmos para uma guerra, nos diminumos a batalhas parciais, negociando sempre os mesmos termos, em um eterno ciclo vicioso.
Pensemos: que mudanas estruturais conseguimos para melhorar a escola e consequentemente nosso trabalho nos ltimos anos? Qual e como a nossa ao poltica dentro do cotidiano escolar? No seria mais efetivo boicotar programas retrgrados? Descumprir currculos incumprveis diante dos recursos disponveis na escola?
hora de trocar os discursos utpicos, desgastados e descolados da realidade por um olhar mais sbrio sobre nossa ao. E isso nos impe, por exemplo, o entendimento e aceitao de que no somos e dificilmente nos tornaremos uma classe idealmente unida. Pois em um pas com orientaes polticas diversas impensvel que uma greve seja um instrumento que congregue toda a classe. Somos diversos, professores conservadores, professores mais progressistas e liberais, at mesmo os mais anarquistas.
A grande questo : que herana deixaremos para as prximas geraes de professores? este exemplo que queremos que eles sigam? Que espelhos seremos para os prximos?