o hipcrita discurso da diversidade em ambientes que incluem tudo, menos a pessoa real, sua comunidade e sua cultura.

J se aram quase 200 anos desde que artistas brancos norte-americanos comearam a pintar seus rostos de preto para zombar de africanos escravizados em shows de menestris nos Estados Unidos, uma espcie de stand up da poca. Era racista e ofensivo naquele tempo e ainda racista e ofensivo hoje.

Mas e o que isso tem a ver com o caso do colgio Santos Anjos em Varginha? Tudo.

Ano aps ano as escolas abrem suas portas para um novo grupo de estudantes que, desde os primeiros os, recebem aulas projetadas para moldar suas vidas e vises de mundo de maneira duradoura e significativa.

Pensando nessas crianas, que lies elas tiraro dos cdigos implcitos na vestimenta e caracterizao da professora naquela circunstncia? O que a aparncia, a linguagem, o comportamento exposto na interpretao da professora vai ensin-los?

Mas o que houve de errado, afinal? Muita gente questiona. Outros muitos, felizmente, no precisam desta pergunta respondida, pois para esse grupo bvio que uma prtica que remete a uma histria trgica o oposto de uma boa ideia.

Mas a professora no racista (muitos esto pensando enquanto leem isso, inclusive), ento tudo bem ela se pintar de preto. Parem de mimimi. Dizem.

Para o grupo do "porqu" (e para qualquer um que se sinta motivado a dialogar com um de seus membros), aqui est uma explicao do que est errado em usar blackface:

Blackface muito mais do que apenas maquiagem escura usada para aprimorar uma caracterizao. Suas origens norte-americanas em meados do sculo XIX, com atores brancos usando graxa em seus rostos para retratar escravos no era o que podemos chamar de representaes lisonjeiras. NO MESMO. Tendo como pano de fundo uma sociedade que sistematicamente maltratava e desumanizava os negros, eles eram retratos zombeteiros que reforavam a ideia de que os afro-americanos eram inferiores em todos os sentidos.

Os menestris j saram de cena h muito tempo, contudo o assunto e a prtica do blackface, infelizmente, no. Blackface nunca foi e nunca ser uma forma neutra de entretenimento e est bem longe de ser uma homenagem. a produo e sustentao de esteretipos carregados de violncias. Esteretipos que reforam a ideia de que a negritude , na melhor das hipteses, uma piada.

Portanto, no importa se a “inteno foi boa”. O prejuzo, seja em termos de provocar raiva ou tristeza, ou desencadear vrias emoes ou mesmo fazer com que ns, negros, nos sintamos mais sensveis e invisveis ao mesmo tempo, est posto.

“Mas eu no quis dizer isso”... No se trata do que voc quer dizer e sim do dano que pode causar.