tica, discurso e prtica (i)

11/10/2006

No de hoje que em perodos eleitorais vm tona discursos sobre a tica, o que seria digno de louvor se no fossem feito apenas com o intuito eleitoreiro e por indivduos que, numa anlise mais apurada de suas posturas polticas ou pessoais, deixam a desejar justamente naquilo que mais pregam: a tica. Mas o que causa maior indignao, no entanto, que o que permeia esses discursos a total desconsiderao com o eleitor, uma vez que a lgica que os embasam a de que ele, eleitor, por ser desinformado e no possuir senso crtico, no ir questionar a falsa pregao eleitoral por acreditar em tudo o que lhe transmitido pelos meios de comunicao. Pode parecer inverossmil, mas a verdade nua e crua esta: o marketing poltico-eleitoral no Brasil baseia-se em vender uma idia ao eleitor explorando suas prprias deficincias e necessidades, ou seja, por um lado prega-se aquilo que o eleitor ignora ou no tem preparo para discernir, por outro, diz-se aquilo que ele quer ouvir. Em sntese, isso no tem nenhuma tica, no mesmo?

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Para no ficarmos apenas na superfcie da questo, vamos aprofundar um pouco a reflexo, uma vez que bem possvel que grande parte das pessoas nem saiba ou compreenda mesmo o que vem a ser essa tal da tica, posto que, em se tratando de Brasil e inda mais da poltica brasileira, possvel afirmar que cada um trata da tica como lhe convm, o que tem resultado apenas na banalizao do termo e na deturpao do seu real contedo. A origem da palavra tica vem do grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o carter. J os romanos traduziram o ethos grego, para o latim mos (ou no plural mores), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral. Embora os dois termos estejam inseridos na rea do comportamento humano, eles no so termos equivalentes, da que errneo utiliz-los como se fossem sinnimos. A diferena est em que a moral normativa, ou seja, um conjunto de normas, princpios e costumes, que direcionam o comportamento do indivduo em um dado grupo social. E a tica, por sua vez, define-se como o conhecimento, a teoria ou a cincia do comportamento moral. atravs da tica que compreendemos, explicamos, justificamos, analisamos criticamos e, se assim quisermos, aprimoramos a moral da sociedade. A tica, em ltima anlise, a definidora dos valores e juzos que norteiam a moral.

Voltando aos aspectos objetivos tanto da tica quanto da moral, uma questo que se coloca hoje para ns a distncia que separa o discurso da prtica no fazer poltico, o que nos leva a crer que no a de puro engodo ou hipocrisia algum, seja l quem for, se auto-eleger o restaurador da tica, j que isso demandaria uma dose cavalar de credibilidade amparada no apenas na retrica, mas, sobretudo no respaldo de aes pretritas idneas e moralmente ilibadas, coisa rara na poltica brasileira, devido principalmente ao prprio sistema poltico-istrativo vigente que, a rigor, um facilitador da corrupo nos seus mais variados moldes.

Portanto, se verdadeiramente tivermos interesse em discutir a tica ou a moral, creio ser importante elevarmos o nvel do debate e expandi-lo alm das fronteiras da poltica, uma vez que esta apenas uma caixa de ressonncia dos costumes e prticas interiorizadas em nossa prpria sociedade, onde tm imperado os dois mais fatdicos e mortais vrus a tudo que se queira alimentar de dignificante e bom, por ora manifestados nas mximas egicas do levar vantagem em tudo e de que os fins justificam os meios.

Boa Reflexo para voc.