Perseguido pela sensao de cansao e de desnimo, despertei-me s 11 horas da manh. No saguo do pequeno Hotel Itajub, no centro antigo do Rio de Janeiro, revi o jovem negro musculoso, dentes alvos e bem alinhados que, na vspera, tomara uma caipirinha no bar onde me encontrava no findar do dia.

Ao seu lado uma jovem sa, minissaia e blusa generosamente decotada, ares de comerciante do sexo e ambos eram, aparentemente, integrantes da ligao entre o submundo carioca e a busca de divertimento negocial de uma representante do primeiro mundo.

Respiro fundo, pois os jornais estampavam em suas manchetes que o Presidente dos Estados Unidos, George Bush, teria oferecido ao ditador Saddam Hussein para que ele terminasse o desarmamento de seu pas ao destruir msseis de longa distncia e indicar os locais onde estariam escondidas as armas qumicas e biolgicas em seu pas.

"Bush e Blair do 10 dias a Saddam". "Colaborao do Iraque no interrompe plano de guerra".

Pareciam gritar as letras garrafais das notcias na primeira pgina de um jornal de grande abrangncia no territrio carioca.

"No maior enfrentamento diplomtico no Conselho de Segurana desde o incio da crise iraquiana, Estados Unidos e Gr-Bretanha anunciaram ontem em ultimato de dez dias ao Iraque, desencadeando a absoluta oposio da Frana, apoiada por Rssia, China e Alemanha, que pediram mais tempo para os inspetores da ONU realizarem o seu trabalho".

"Londres e Washington j tm mais de 250 mil soldados no Golfo Prsico prontos pra atacar o Iraque, preferiram apegar-se aos aspectos negativos do novo relatrio dos inspetores de armas apresentando ontem ao Conselho, ignorando o aumento da cooperao iraquiana destacada pelo documento".

As notcias continuavam a bombardear o meu equilbrio mental.

"A proposta dever ser votada na tera-feira e estabelecer at o dia 17 de maro (de 2003) como data final para que o ditador Saddam Hussein entregue suas supostas armas de destruio em massa e fornea resposta para todas as dvidas ainda existentes sobre seus programas blicos proibidos".

Desta forma, naquele sbado de 8 de maro de 2003, o Jornal O Globo continuava massacrando os seus leitores.

Do ngulo de onde me encontrava, sentando uma das mesas do Caf Odeon, eu avistava as palmeiras imperiais ainda jovens, cujo balano de suas folhas anunciavam a mudana do tempo: o cu azul se tornara cinzento, a temperatura at ento amena prenunciava a chegada de chuva e de frio na continuidade daquele dia.

As manchetes continuam no animadoras. Encontramo-nos confinados, mais sensveis, mais focados, extremamente cticos e descrentes da mdia impressa, das mensagens encaminhadas atravs das redes sociais e do universo virtual e permitimo-nos uma reflexo mais aprofundada sobre a grande oportunidade que estamos tendo de respirar o ar em So Paulo, praticamente sem poluio, de caminhar pelas ruas da grande metrpole sem o perigo de estar atropelado por um motorista desatento e encontramos um aconchego na leitura e no dilogo com pessoas que "bruscamente" descobriram estarem mais humanas pois o Coronavrus deixou bem claro que todo o ser humano para ele "um igual", no h distino entre ricos e pobres, negros, amarelos ou brancos, enfermos ou saudveis, crianas, jovens ou ancianos.

O Planeta Terra agradece, momentaneamente, a chegada do valente vrus que poder certamente induzir a uma mudana comportamental que permitir que o Ser Racional e a respeitar outras vidas na vasta gama de espcies animais e vegetais da Terra.